sábado, 16 de janeiro de 2010

As mãos ensanguentadas | 7.º A

As mãos ensanguentadas
(inspirados em Beatriz Hierro Lopes)


Aterrorizava os amigos nas ruas. Pessoas, quando havia tempo para amedrontar. Vendia desencanto para um Halloween que se imaginava medonho. Eduardo, à espera das vítimas, ouvia-o: dizia, que gostava de matar, que a morte o encantava muito, atacando os amigos e as pessoas que por ali passavam. Tinha uma foice e uma motosserra, o homem que todas as noites esperava. Vestido de negro, os dentes afiados e os olhos encarnados fundiam-se na escuridão. Sem se saber como a caçada começava e a vida acabava.

         Vendo chegar a vítima, levava à foice as mãos ensanguentadas, em busca de prazer. Vazias, faziam-no sentir o corpo cansado. A alma endiabrada, dizia, ao abrir os corpos para que deles saísse sangue. A vítima mais recente (que não falava) faria anos daí a dois dias. Queria paz e sossego. Paz e sossego para descansar à noite. Mas naquela noite ninguém andava na rua para se protegerem do psicopata à solta.

         Sentado num telhado, num telhado frio, pensava em histórias – de terror antigas – embalando com o olhar o sangue a fervilhar. A casa onde se refugiava seria atacada: haveria sempre utensílios para chacinar as vítimas.  A vítima, que morrera há pouco, nunca seria descoberta. Também ela tivera nome, mas pela boca do assassino, era tão-somente conhecida como mais uma vítima.  A sua última vítima. Aquela que deixara enterrada, no quintal da sua casa escura, junto ao cipreste.

Custava-lhe enterrar: dizia-o com o olhar. Até os animais se enterram.


7.º A | Prof. Armanda Costa

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