sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Farsa de Inês Pereira



A “Farsa de Inês Pereira” tem, como todas as obras de Gil Vicente, uma intenção crítica. Inês, personagem modelada, aprende com os erros e torna-se uma mulher vingativa e manipuladora. O autor procura, desta forma, criticar a conduta das mulheres. Porém, em nosso entender esta crítica não é plenamente conseguida, pois a personagem principal, ao invés de ser castigada, sente-se (e nós na qualidade de leitores, sentimo-lo) e é recompensada. Recordemos o momento final, em que ela convence, sem grande esforço, o marido “asno” que a carregue, mais duas lousas, e ainda cante, enquanto a leva até aos braços do amante. Além da crítica às mulheres, Gil Vicente não poupa o clero, na personagem do Ermitão e também nas alusões que lhe são feitas por Lianor Vaz; nem a nobreza, cujo comportamento deixa muito a desejar. O escudeiro representa uma fidalguia decadente e interesseira. Apenas o moço, figura do povo, denuncia e expõe o seu amo. A forma como morreu (a fugir de um pastor) é um momento que ostensivamente Gil Vicente confronta a nobreza com o ridículo. Se o objetivo primordial de Gil Vicente é provocar o riso, conseguiu-o, porém se o objetivo da obra era moralizar, ficou aquém, pois a figura de Inês tornou-se um símbolo do feminismo.

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