sábado, 9 de junho de 2012
[Oficina de escrita]
Barca do Paraíso, 3 de Novembro 1517
Prezado D. Anrique
(mais conhecido por Fidalgo):
Venho por este meio expressar a minha preocupação pela sua conduta.
Tenho, na minha qualidade de representante do Paraíso, observado as suas ações e sinto-me na obrigação de lhe dizer que, se assim continuar, o Inferno será o seu destino.
Como sabe, aqui tudo vemos e sabemos. A tirania não é a melhor maneira de garantir um lugar no céu e, rezar ou mandar rezar, sem qualquer sentimento, muito menos. Para garantir uma vida eterna feliz necessita de modificar o seu comportamento.
Cuide de sua esposa, ainda vai a tempo de recuperar o amor. Deixe a sua amante, pois ela também o engana. E um casamento baseado na mentira é um passaporte infernal. Trate bem os seus súbditos, afinal são eles que fazem de si fidalgo. Distribua as suas riquezas, porque, deste lado, de nada lhe valerão. É melhor ser amado do que temido.
Assim, se V. senhoria seguir os meus conselhos, ainda vai a tempo de assegurar uma eternidade na paz dos anjos. Caso contrário, se persistir na tirania, na falsidade, no engano e se continuar a acreditar que basta pedir que rezem por sua alma, o único futuro que o aguarda é o Inferno e, aqui, esperá-lo-á, o diabo.
Com os meus melhores cumprimentos e para que diga que não o avisei,
O Anjo
[Oficina de escrita]
sexta-feira, 27 de janeiro de 2012
Farsa de Inês Pereira
A “Farsa de Inês Pereira” tem, como todas as obras de Gil Vicente, uma intenção crítica. Inês, personagem modelada, aprende com os erros e torna-se uma mulher vingativa e manipuladora. O autor procura, desta forma, criticar a conduta das mulheres. Porém, em nosso entender esta crítica não é plenamente conseguida, pois a personagem principal, ao invés de ser castigada, sente-se (e nós na qualidade de leitores, sentimo-lo) e é recompensada. Recordemos o momento final, em que ela convence, sem grande esforço, o marido “asno” que a carregue, mais duas lousas, e ainda cante, enquanto a leva até aos braços do amante. Além da crítica às mulheres, Gil Vicente não poupa o clero, na personagem do Ermitão e também nas alusões que lhe são feitas por Lianor Vaz; nem a nobreza, cujo comportamento deixa muito a desejar. O escudeiro representa uma fidalguia decadente e interesseira. Apenas o moço, figura do povo, denuncia e expõe o seu amo. A forma como morreu (a fugir de um pastor) é um momento que ostensivamente Gil Vicente confronta a nobreza com o ridículo. Se o objetivo primordial de Gil Vicente é provocar o riso, conseguiu-o, porém se o objetivo da obra era moralizar, ficou aquém, pois a figura de Inês tornou-se um símbolo do feminismo.
terça-feira, 24 de janeiro de 2012
domingo, 8 de janeiro de 2012
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